sábado, 22 de março de 2014

POR QUE PARECEMOS BRANCOS?

Tava aqui conversando com um amigo e falando sobre um assunto de que pouca gente se lembra quando pensa na própria origem. E isso ocorre porque, apesar de sempre tão alardeada miscigenação do brasileiro, a gente imagina que é branco porque não exatamente fez parte dessa miscigenação. só que fez. Senão vejamos.
Durante os quase três primeiros séculos da empresa colonial portuguesa na América, raríssimas eram as mulheres que aportavam aqui. Por um motivo muito óbvio: ficavam em Portugal cuidando da família; não tinham a sanha conquistadora ibérico; não estavam muito afeitas à ideia de se jogar ao mar para expedições de meses; muito menos a ir morar numa colônia do outro lado do mundo de que o objetivo era arrancar o máximo e voltar à Europa; e na raiz, o português era o pescador, era ele quem se lançava ao mar, e a mulher ficava ao cais aflita pela sua volta (olha as origens da nossa pieguice aí). Vale lembrar ainda que mesmo para o português, vir para a colônia era empreendimento temporário. Se não era um criminoso, um sesmeeiro, um degredado, um cristão novo fugindo da Santa Inquisição, por que alguém quereria fixar moradia num lugar quente, perigoso, longe da família? É a mesma coisa que pensar hoje em ir lançar as bases da colonização de Marte, né?
Pois bem, esses empreendimentos individuais de exploração eram demorados. Se hoje em dia um projeto se matura a médio prazo, no atraso tecnológico do século XVI... subir as serras, descampar matas, civilizar nativos, achar alguma coisa de valor econômico. Tanto é que o que se quis de primeiro foi o mais fácil: madeiras, especiarias, metais etc. Nada de ficar plantando e esperando sentado pra levar pra Europa.
Uns quarenta anos após a divisão da América pela bula papal (acho que o papa era Alexandre "N"), o Reino percebeu que pelas investidas francesas perderia a terra se não a colonizasse com gente. E como fazer isso sendo que Portugal tinha uma população que não passava naquela época de um milhão de habitantes? Como colonizar meio mundo com esse tantico de gente?
E foi aí que a necessidade individual se juntou com o interesse coletivo e com a vontade de comer (não literalmente). Como eu disse, as mulheres não saíam do reino. E foi justamente nesse ponto que o português foi dos povos mais plásticos de que se tem notícia na História. Enquanto o espanhol trazia a esposa, os filhos, a organização burocrática de Castela e Leão e a igreja, o português vinha sozinho, pra onde não havia pecado - para abaixo do Equador.
Como deveria ficar aqui por mais tempo, sem esposa, poucos padres e o Rei ainda queria que a colônia procriasse, a sua necessidade individual fez com que ele "fornicasse" com as índias e que com elas, obviamente, tivesse filhos. Em termos de duas ou três gerações, o que equivale ao período do século XVI, já havia nos principais centros de colonização um pool de mestiços e, principalmente de mulheres mestiças, à disposição dos homens portugueses que continuavam vindo da Europa.
E é aí que começa o nosso branqueamento. Nesse pool de filhos de índias e portugueses do primeiro século, havia aqueles cujos traços saíam mais ao pai e aqueles que se pareciam mais com a mãe. O filho homem mais forte e destemido, mestiço, em geral virava o assumia o empreendimento local do pai e se casava com uma mestiça de traços mais "europeus"; os outros filhos desbravam o interior; as filhas mestiças de traços mais "europeus" eram as preferidas para o casamento com o português que vinha em fluxo constante da Europa, obviamente porque já possuíam "alma", eram minimamente mais educadas e lembravam mais o padrão de beleza deixado na terrinha. As filhas mestiças de traços mais indígenas eram as preteridas. Ou casavam-se com mais outros índios, ou homens mestiços mais pobres e iam formando uma classe mais escura e mais ao meio da elite.
Ressalto, essa foi a mistura que deu origem à classe média antiga e tradicional brasileira. São os quatrocentões paulistas, os sertanejos que subiram o São FRancisco em direção a Minas e colonizaram grande parte do estado, e mesmo no litoral do nordeste, onde a elite primordial era mais portuguesa e diferenciada do que no Sudeste. Aliás, isso é visível até hoje. A elite nordestina se acha mais antiga, casta e europeia; a carioca tem certeza que é uma extensão da Corte de Lisboa e a paulista se orgulha de ter desbravado o mato.
Mas era aqui que eu queria chegar: nesses primeiros séculos, mulher portuguesa só vinha para o Brasil se fosse órfã, não arranjasse marido em Portugal ou se tivesse algum problema no Reino (prostituta, cristã-nova, bruxa, perseguida etc.). A filha mais branca do português e da índia era a preferida e daí em diante. Por isso a classe média em geral tem a pele mais clara. Porque foi "branqueada" seletivamente ao longo do período colonial.
E se você acha que isso tá longe... não, não! Conhece gente que teve a bisavó índia pegada no laço pra casar com um desses sertanistas que povoaram o oeste de Minas Gerais no século XIX.
p.s.: não fiz revisão do texto, como palavras etc. e tou com pressa rsrs
p.s. 2: bom dia!

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