sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Breves considerações acerca da origem etimológica e histórica da palavra “menino”

Impossível dizer ao certo de onde me vem a curiosidade a respeito de determinadas palavras,  mas num átimo me passou pela cabeça que “menino” não soa tão latim e que deveria ter  outra origem mais ibérica, mais de base, mais próxima às primeiras palavras que o homem  balbuciou. Pois bem, minha bisbilhotice etimológica deveio por deveras aguçada.

Recorri primeiramente, como sempre faço, aos dicionários, na espera por uma resposta pronta  e certeira acerca da origem do “menino”. Eis as respostas:

1) voc. de criação expressiva; s.v. meñique 'o menor dedo da mão', Corominas  rejeita a hipótese de a palavra menino, em port., ser um emprt. do esp.; para  o autor, trata-se de um de tantos termos acariciativos que as mães inventam  para os seus filhos e, nessas condições, explica-se que o voc. seja aparentado  com o fr.ant. mignot (sXIII), mod. mignon, 'gracioso, gentil, bonito', cat. (sXIII)  minyó 'rapaz'; f.hist. sXIII menino, sXIII menỹo, sXIII mininno, 1345 meninho,  sXIV menĩhos, sXV mynyno (Houaiss).

2) [Voc. de or. express.] (Aurélio).

Resultado: a resposta não era tão pronta assim. “Menino” não advém de alguma palavra latina parecida com “meninnus”. Certo me pareceu que tem origem num vocativo de origem/criação expressiva.

Como trouxe Houaiss, rejeita-se a hipótese de ser a palavra um empréstimo do castelhano.  Entretanto, “menino” me lembra bastante de uma outra palavra espanhola: “niño”. Sobre a origem desta, encontrei estas notas, que convém observar.

Pero ocurre que la raíz nin la encontramos también en las familias lingüísticas del catalán, el gallego (menino) y el italiano; por eso los lexicólogos quieren creer en un ninus o ninnus del bajo latín como origen común de esta palabra,  que tardó en pasar de la lengua hablada a la escrita. Pero aun con esto,  queda por explicar la procedencia o las conexiones de ese hipotético ninus  o más probablemente ninnus, porque no hay campo léxico al que asignarlo.  Las formas niño y niña testifican la doble nn (observemos cómo de annus  hemos pasado a año). La única explicación que nos queda es asignarle a esta  palabra un origen infantil imitado por los adultos, que ayer más que hoy se  caracterizó por la tan plásticamente llamada ñoñería. Corominas ha rastreado  la presencia de palabras análogas en otras lenguas: en ruso, njanja es teta y  biberón; en vasco aña es la niñera; en gallego nana o nanai es mamá; en el  alemán del Tirol nene es el abuelo; en servio y en otros idiomas, nana es la  hermana mayor; en húngaro dan ese mismo significado a nene; en turco nené  es la abuela; en búlgaro neni es el viejo. (http://www.elalmanaque.com/lexico/nino.htm)

Semelhantes a “niño”, temos no português e em outras línguas latinas “neném”, “nanar”,  “ninna”, “menino”, dentre outras. E parece bem provável que esse “n-n” tenha surgido de uma  imitação do choro dos bebês, a onomatopeia tão comum às palavras mais familiares e de base  de todas as línguas, provável origem da fala, visto a nossa tendência de nomear algo com a  repetição do barulho que faz, processo este inerente ao aprendizado da fala.

Assim, de um “nhém-nhém” de um bebê, nomeamo-lo “nenê”, “nene”, “nino”, “ninho”, pela  palatização do “n” tão comum ao português. Mas por que “me-nino”?

Começo aqui meu devaneio. Uma mãe com sua criança no colo não precisava dizer a ninguém que aquele “nhém-nhém” era seu. Mas à medida que ele crescia e corria ao redor dos pais, parece-me aceitável que os pais, ao apresentarem a criança a terceiros, referisse-se a eles  com um pronome possesivo: aquele é meu “ninho” – apontando-o aos outros. No galaico-português, o pronome “meu” era muito comumente abreviado por “mo”, “ma”, “mia”, “me”,  como efetivamente ocorreu em outras línguas do romance. Por conseguinte, o “meu” na  forma de “me” se justapõe ao “nino” e forma aquele “menino” por quem procura minha  curiosidade. Por que significa hoje “criança” e não “meu filho/nenê”? Nem conviria chamar  uma criança eternamente de neném, correto? Além do mais, as palavras, assim como os filhos,  se soltam de suas origens significativas, formando à língua outros sentidos para bem além dos  originais.

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