quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A SOLIDÃO

Minha irmã dorme, assim como a maioria das pessoas fazem a esta hora da noite. Agora sou só eu, a televisão e o meu notebook, sem aquele contato com o outro que nos torna tão mais cientes do que é real. Pensei em finalmente deitar-me também, mas minha mente foi invadida pela algazarra da solidão em meio a um silêncio profundo, quase surdo. E foi essa sensação da solidão que me fez lembrar de uma conversa que tive há alguns dias atrás, com outros três amigos, na mesa de um bar. Em meio ao matraqueado geral, aumentei a voz - geralmente baixa e calma - e disse que no dia anterior, antes de dormir, havia encontrado o meu caminho: jamais namoraria novamente - no sentido de ter um relacionamento sério. As vozes sumiram e olhares inicialmente de soslaio se voltaram para mim, como que houvessem acabado de ouvir o maior vitupério de suas vidas. Assim ouço o primeiro "ah, o que é isso, Saulo?" e um único "arrasa! não digo que nunca vou namorar, mas que demanda, demanda". O terceiro calou-se num constrangimento de como quem adentra o velório de uma criatura que morreu sozinha, amargurada e ranzinza, traumatizada por relações anteriores.


Querer estar só após longos relacionamentos que terminam é natural. O que não é tão normal é ter se sentido sempre sozinho durante esses relacionamentos. Mas talvez eu nunca houvesse parado para pensar sobre o quão eu me distancio e sobre o quão eu sempre me senti sozinho. Cresci afastado da minha família - mesmo estando perto dela, faltava a festas de aniversário, me recolhia à biblioteca no intervalo da escola, dormia ao som de alguma ópera, ao invés de fazer bagunça na casa de amigos, não procurava me aproximar de colegas de faculdade, enfim, a solidão nunca me incomodou. Talvez a falta dela me tivesse tirado muito mais do sério do que os meus momentos comigo mesmo. E mesmo rodeado de amigos, colegas, família e confissões, a sensação de solidão e da vontade de estar só nunca me deixou em absoluto. Faço parte de uma espécie gregária, mas ontologicamente sou só, apartado da realidade do outro.


E eu não amo e não quero ser amado? Amo e sei que sou amado. E não faço trocas ou concessões entre um e outro. Amo gratuitamente. Amo sem a necessidade de me expressar a quem amo; transbordo. Talvez a expressão do sentimento simplesmente acabaria com tudo, talvez não. E no não, não quero me demover do inexorável propósito de permanecer ao mesmo tempo só e ao mesmo tempo cheio de companhias. Minha solidão é a ultima ratio do meu amor-próprio.


E sou feliz assim.

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