terça-feira, 18 de agosto de 2009

A INSÔNIA

Ontem consegui finalmente me deitar às vinte e três horas, quando fazia tempos que não ia para a cama antes de uma hora da manhã. Como de costume, um calor horripilante; mais uma noite de verão belo-horizontina em tempos de aquecimento global, e minha cama estava uma loucura de quente. Liguei o ventilador – pois ainda estou sem o bendito condicionador de ar split, item indispensável na vida de qualquer calorento como eu – e abri um livro qualquer sobre moda para me distrair enquanto o sono não vinha. Após algumas páginas, já entediado com os casacos de tweed, luvas e cachecóis de cashmere – e como não poderia naquele calor insuportável? – decidi ler Danuza Leão, contando de suas viagens à Europa.

Ah, o frio europeu, o Café de Flore em Paris, Les Deux Magots, Tarte Tatin de pommes, enfim, eu e a cama e o livro. E já era hora de um de nós se despedir. Livrei-me de alguns travesseiros e me virei para o lado, esperando ser levado na barca de Morfeu. Então, comecei a pensar no quão interessante seria voltar a escrever para meu blog – mesmo que ninguém o lesse. Talvez sobre futilidades, sobre o tempo, sobre as viagens, sobre o que queria fazer no dia seguinte e mesmo sobre o insuportável telefone que não parava de tocar no prédio da frente, no dia anterior, durante meu primeiro sono. Nada de política, diga-se de passagem. Nesse ponto, sei que vou acabar a vida totalmente apático, pois me cansei de gastar o coração com mágoa do que está errado. Enfim, pensei em escrever sobre a insônia, lembrando-me do dia anterior, aquele do telefone.

A barca, não vi nem de longe; talvez estivesse totalmente perdida dentro das névoas do meu pensamento e da vontade de escrever que de súbito me atacara. Mas a insônia veio, e sussurrava ao meu ouvido que eu deveria sair imediatamente daquela cama em busca do laptop. Sussurrava que deveria escrever sobre as tais coisas variadas, que aquela inspiração simplesmente desapareceria no outro dia – como quase tudo aquilo que eu penso antes de dormir – e que aquela era uma oportunidade ímpar de voltar a escrever mais que e-mails sobre assuntos gerais, Big Brother Brasil número enésimo ou circulares no trabalho. A cama continuava quentíssima, e eu ainda me revirava de um lado para o outro, insistindo que o sono ainda viria. Sou um eterno teimoso; a razão sempre está comigo e, quando assim acredito, simplesmente me calo ou faço nada. Mas naquele instante tomava-me a vontade de agir, de procurar algum tecido sintético que por ali estivesse. Ainda, de sair desesperadamente a procurar algum colchão em que eu pudesse colocar bolsas geladas. Levantei-me e fui até a cozinha procurar água gelada que, obviamente, na casa de um displicente como eu, não haveria. Relutei, entretanto, a abrir outro livro ou a voltar ao computador para escrever.

E foi assim que comecei a pensar no dia seguinte: no que faria quando acordasse; no espresso que tomaria no Kahlúa ou no Café Benzadeus; e no tempo que tiraria para escrever o que me restasse à memória. Aliás, a questão do espresso e dos cafés foi uma das que mais me tomou tempo esta semana. Mas esse é um assunto para outra hora; Gerbeaud, de Flore, de la Régence, New York Kávéház, todos terão seu devido tempo. O que me afligia realmente àquele momento era a barca de Morfeu que não vinha nunca me pegar do outro lado do rio. Então, prometi-me que finalmente faria aquela limpeza pesada de que meu apartamento no centro de Belo Horizonte tanto precisava. Seria a maneira de me cansar para dormir na próxima noite, e era ainda melhor que passar aquela noite em claro para forçar o sono no outro dia. Enfim, era o sono e não mais a insônia...

Às oito e vinte da manhã do dia seguinte, o despertador de meu celular começa finalmente a tocar. E isso era um acinte à minha noite mal-dormida. Por quem se toma o tempo que não me deixa dormir e quer teimosamente acordar-me cedo? E o sonho que eu ainda estava vivendo, o que faria dele quando tão raramente me lembro dos sonhos? E era mais que um sonho: era um café da manhã em plena primavera do Boulevard Saint-Germain. Impossível era me levantar àquela hora e não atropelar um carro no caminho para o trabalho. O espresso no Kahlúa ou Benzadeus poderia esperar mais um dia, o café no Boulevard, não.

Seguiram-se, então, famigeradas sonecas em meu celular, quando finalmente me levantei às nove e catorze. Desnecessário dizer que estava eu mais uma vez atrasado para o trabalho. E dá-lhe trabalho!

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